Certa vez eu caminhava pelas calçadas da vida e parei em uma sombra para repousar - sombra de uma amendoeira que escurecia de leve um ponto de ônibus próximo dali. Nele, estavam dois homens conversando. Um senhor de mais ou menos uns 60 anos, vestindo uma roupa social com tons azuis e um belo sapato muito bem engraxado. O outro um jovem rapaz, com um i-pod na mão, uma mochila preta da adidas e uma camiseta escrita "Hey Ho! Let's Go!".
Eles conversavam sobre algo curioso: Amor a distância.
Resolvi pretar atenção. O jovem, muito vigoroso, cheio de si e confiante no que dizia, contava seu caso sem conter palavras. Fazendo uso de gírias como "tipo" e "véio" ele contava sobre sua paixão. Seu caso era curioso, porém comum nos dias de hoje. Ele havia conhecido uma garota na internet. Se apaixonou por ela antes mesmo de vê-la e aquilo tomou conta do seu ser. O amor foi tanto que o fez juntar suas malas e ir ao seu encontro. E foi perfeito. Apenas aumentou seu desejo de estar com sua amada, que mesmo de longe também o amava. Porém, o tempo o fez desacreditar e provar a ele que jamais daria certo. Que tudo não passava de uma paixão temporária e que não valia a pena investir nesse tipo de relacionamento. Gesticulava com força e contava que seria impossível para uma pessoa normal manter tal romance, nenhum amor seria mais forte que a distância.
O senhor, que parecia ter uma personalidade muito calma e compreensiva apenas escutava o que o jovem dizia. As vezes fazia sinais de positivo com a cabeça e as vezes mostrava uma insatisfação com relação ao que o rapaz narrava.
Após o garoto terminar sua história com um "Enfim, é impossível..." o senhor resolveu falar. Com uma voz rouca e uma expressão no olhar de quem passava firmeza, contou sobre seu passado. Dizia ele que, quando tinha a idade do jovem se apaixonou. O amor foi absurdo e completamente inabalável. Tinha planos de se casar com sua amada e viver uma vida feliz ao lado dela. Porém fora chamado para a guerra. Serviu seu país durante 10 anos. Foram 10 anos longe de sua dela. Dizia também que o que o fazia levantar todos os dias eram as cartas, as lembranças e a certeza de que longe daquele local estava ela, o esperando. Contou que em nenhum segundo daqueles 10 anos deixou de ama-la ou de acreditar que tudo daria certo.
Então o jovem, pasmo com toda aquela história, virou e disse:
"-E você conseguiu ficar com sua amada, após a guerra?"
O senhor respondeu que não. Pois quando voltou ela estava doente, muito doente. Teve tempo de se despedir, dizer o que quanto a amava e antes mesmo de lhe entregar suas rosas ela se foi. Para sempre.
Segundos depois, surgiu da curva um ônibus amarelo. Era o ônibus que o senhor esperava. Ele levantou do banco e fez o sinal com a mão. Com um leve sorriso disse "tchau" e o menino curioso o chamou rapidamente
"- ... mas como o senhor conseguiu viver até hoje sem ela?"
"- Da mesma forma que ela viveu aqueles 10 anos sem mim..."
"- Como?!"
"- Como?!"
"- A amando."
Não sei o que aconteceu após isso tudo, mais uma coisa é certa: Com certeza aquele rapaz pegou outro ônibus e foi atrás de sua paixão, que um dia acreditou que não daria certo.
Current Music: What A Wonderfull World - Louis Armstrong
Um comentário:
Posta mais, Daniel! *-*
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