sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 5 de 8)

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Ressaca de Refrigerante


Hoje acordei com meu chapéu de cowboy e meu terno azul. Pudera ser um sonho ou eu realmente estava vendo tudo embaçado? Meus pés tocavam de leve o chão e eu ouvia uma canção. O som penetrava meus tímpanos que descansavam ao ouvir tal sonoridade, não me lembro da noite passada, se é que existiu uma. Só lembro de uns frascos de kibes e umas garrafas vazias no chão... minha memória estava falhando como vindo de uma ressaca forte. Sei que tive amigos, mulheres e até mesmo homens. Tudo passou do estágio da loucura diária e aceitável. Meu celular havia desaparecido assim como meu pudor desmedido. Por fim, chutei meu gato, que repousava levemente sobre minhas sandálias, catei meus óculos que estavam com a armação bem torta, ajeitei meu cabelo que já não é muito ajeitável mas parecia pior que de costume, tomei um forte café doce, fumei um cigarro nojento de fundo de gaveta, enfrentei a chuva que parecia rir de mim e fui trabalhar como se nada tivesse acontecido.


Current Music: Search and Destroy - Iggy and The Stooges

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Verde, Vermelho e Amarelo

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Correr atrás de quem se ama é uma arte. Para poucos. Fato.
Se ver perdido, confuso e anestesiado sem conseguir falar ou articular o que se deve é o comum então. A covardia interna não se acovarda perante o amor.
E falar de amor é tão complicado... cansativo, difícil...
Mesmo com um por de sol amarelado não conseguimos nos inspirar, expressar...
O amor torna nossa vida um quadro com vários tons da aquarela. Confuso isso? Sim. Porque não? Falamos de paixão, amor, devoção, quem sabe?

Não correr atrás nos faz seguros. Dentro de um casulo nos protegemos de possíveis decepções ou talvez glórias que pode se tornar amarguras no futuro.
Então viver fechado, trancado e escondido é o que faz de nós, seguros sentimentalmente.
O mundo é dos covardes! Grandes países usam de covardia contra os menores países para adiquirir o que bem entendem. Grandes (e gordinhos) garotinhos da escola usam de seu tamanho para roubar o lanche dos menores e indefesos menininhos. Grupos de playboys usam seu grande numero de pessoas para, covardemente, ferir algum nerd de oculos e espinhas só porque ele é fã de Star Wars.
Fato, fato, fato...
Então nos vemos em um limiar colorado sem chance de lutar contra nosso ímpeto. E por mais que vermelhos de raiva, não podemos dizer. Nos calamos, e calados permanecemos. Sãos e salvos. Porém em vão.

Mas quando o tempo passa e as folhas verdes se fazem marrom, me lembro dos olhos dela. No sol, do castanho passa para o tom das folhas e isso me conforta de forma que esqueço de falar e volto a gaguejar. Mas se deixar o dia correr, a semana acabar e os mês voar podemos ficar quebradiços e fracos, como se tudo que nos resta é um abrigo solitário. De fato a vida é curta, chata e trabalhosa então não podemos nos dar ao luxo de exitar! Porque aqueles olhos podem nos enganar ou confundir e no meio de toda incerteza pode haver um momento de exatidão e aí o por do sol de cores se funde com aquele olhar e a confusão se torna uma certeza concreta. E tudo se encaixa. O tempo de agora se torna o que esperamos. E o que esperamos se torna mais que real.


Acordado então, me vejo entre essa questão. Falar de amor, correr de medo ou nadar em prol de um bem maior?

Pois é, amar é complicado... porém o que mais complica é o medo de não ser amado, muitas vezes sem razão.


Current Music: Changes (Black Sabbath)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Da Mentira

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E o tempo mentia pra mim
Sobre o verão que deixei passar
Devagar, devagar, devagar...


Current Music: Condicional - Los Hermanos

sábado, 24 de janeiro de 2009

Da Tempestade que Vem e Fica

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E tão sereno e moribundo, olho pela janelinha do banheiro... dela vejo grades e telhados, nada colorido além dos frascos de sabonete líquido que ficam perto do vidro. A chuva vai caindo fina, fria e silênciosa. Aquele silêncio parece cortar meus tímpanos que ao mesmo tempo me iludem com um som fresco e pálido.

E devagar vou vendo, analisando e pensando... cansado de peregrinar pela casa fico ali, inerte.

Eis que passa em minha mente aquele repetitivo flash, papai chegando do trabalho, mamãe fazendo o jantar... e eu calado. Como hoje.

Sorrio sozinho mas sinto vontade de deitar. E a chuva não para. E o flash termina. A vontade de sair por aquela janela é grande, mas as grades me impedem. O que teria lá fora que tanto me acalma, me engana, me conforta...?

Aperto os botões de minha camisa, apago a luz que me incomoda e caminho novamente ao meu sonoro dia-a-dia. Mas aquele momento de silêncio e sem cor parece ter me despertado.

E a chuva vai caindo... inundando a rua... inundando minha mente... inundando minha vida.



Current Music: Garden - Pearl Jam

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 4 de 8)

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A Casa dos Sorrisos Velhos


Olha que lindo o sorriso daquela criança
Sentada na varanda daquela velha casa
Me parece tão novinha, inocente... sozinha
O que se passa naquela cabeça?
Será que entende tudo a sua volta?
Acho que nem notou que olho tão fixamente para ela
Ela ou ele?
De longe me parece ela, tão quietinha e bonita
Dizem que nesta casa morou um velhinho
Que estava sempre sorrindo, sempre feliz
Será que a casa faz isso com as pessoas?
Rá, que isso... tolice a minha
Mas é estranho como estou aqui, olhando...
Mesmo cansado desse dia chato, com meu terno sujo
Minhas meias ensopadas e minha vista embaçada
Mesmo assim consigo sorrir ao ver aquela criança
Como se tudo sumisse...
Em pensar que quem morou aqui fui eu
Até minha idade chegar eu sentava naquela varanda
Mas um dia deixamos de viver sozinhos
E passamos a depender dos outros
Hoje, tudo o que tenho são meus netos
A vida me tirou até minha antiga casa
Infelizmente este é o ciclo da vida
Mas aquela menininha lá sentada ainda vai entender
Que um dia sentirá falta desta casa
Um dia, sentira falta de seu lar


Current Music: Help! (The Beatles)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 3 de 8)

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Verde


Vem vindo o vento verde
Voando solto por entre as nuvens
Ludibriado com o amarelo
Que tingia as cortinas de manhã
O vento forte que rugia
Manso manso para não acordar o silêncio
Verde claro, verde escuro
Vinha vindo o vento verde
Tocando música, contando contos...
Com flautas, harpas e cornetas
Na margem de minha mente me enganava
Ouço seu som e tudo se faz
Mais bonito, mais colorido...
Vai o vento verde pelo amarelo a fora
Fica o sorriso que me trouxe
E a felicidade de outrora


Current Music: Sweet Little Kitten (Husky Rescue)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Da Insanidade Temporária

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Dia 6 de janeiro de 2009, tarde chuvosa e fria. 

 

Quando acordamos de manhã e vemos a janela embaçada, o céu iluminado e o poster da parede sorrindo para nós começamos a perceber que algo está errado. Não que isso tudo tenha alguma ligação direta com nosso estado mental, mas aparentemente aquilo tudo começa a fazer sentido naquele instante. 

Beirando a sonolencia com um misto de loucura, vemos que as coisas a nossa volta de nada servem e mergulhamos em uma piscina de duvidas e incertezas que nos faz pensar que estamos temporariamente loucos. 

O ser humano não é capaz de lidar com a solidão sem perder a lucidez. Isso é fato. E é neste exato momento que os devaneios começam a se tornar reais e o frio que entra pela fresta da janela começa a fazer você pensar que nada é tudo e tudo é nada. 

Então você sai de casa, entra em uma pequena capela, senta em um velho e empoeirado piano de cauda recém afinado e o som sai estridentemente infernal. A espuma de barba que usa todas as sextas-feiras para se barbear está com cheiro de chocolate meio amargo e sua mãe parece não falar coisa com coisa. 

Vagarosamente vou então andando, sorrindo e debochando do real. Me acostumando com a realidade distorcida de minha mente e tentando ver tudo pelo lado inverso.    

 

E o frio da janela continua a entrar... talvez os sintomas sejam fruto de um contato com o real e tudo aquilo que julguei ser meu, era simplesmente utópico.

 

Current Music: All Apologies (Nirvana)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 2 de 8)

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Bom dia

Bom dia senhorita
Que bela flores tem aí
São margaridas? Que lindas

Bom dia senhor
Que bela gravata tem aí
É cinza? Que linda

Bom dia meu amor
Que belos olhos tem pra mim
São sinceros? Que lindos

Bom dia reflexo
Que belo sorriso tem pra mim

É de plástico? Que lindo

Current Music: Love Reign O'er Me (The Who)