-
Outro estive me perguntando: Sabemos de fato interpretar as coisas?
Na escola costumam ensinar isso. Quer dizer. Não se ensina a interpretar, isso é uma coisa que simplesmente aprendemos. Né?
Mas o que diabos estou falando?! Queria eu ser um grande adimirador do niilismo puro. Saca? Aquele lance de "não há fatos, há apenas interpretações". Isso é fabuloso! Podemos apenas interpretar as coisas da nossa maneira, nada é concreto e sim uma maneira mal interpretada se for algo projetado contra nós. Sempre saímos por cima, saca? Ou não? Mas que diabos! Isso é muito confuso...
Já parou alguma vez na vida para ler algo de Arthur Schopenhauer? Aquela coisa abstrata em excesso às vezes me cansa... parece coisa de maluco.
Tipo:
"Que é que está lendo?"
"Hã?"
"Perguntei o que está lendo."
"Oh, sim. É... Schopenhauer."
"E como está?"
"... é."
"É?"
"É."
"'É' é pra ser o que?"
"Não é nem bom, nem ruim."
"Entendi."
"Não gosto muito dos niilistas."
"Por que não?"
"É tudo abstrato demais, pra mim."
"Nietzsche é legal."
"Você acha, é? 'Não há fatos, há apenas interpretações'?"
"Acho. Acho que interpretamos as coisas de determinadas maneiras e pronto."
"... da maneira que nós queremos."
"... nem sempre."
"O que quer dizer?"
"Que nem sempre interpretamos as coisas como nós gostaríamos que elas acontecessem."
"Aí você está fugindo da teoria."
"Não estou, não."
"Explique-se."
"... não quero."
"Ora, vamos."
"Não quero, pode respeitar?"
"Não."
"Deixe de ser cretino."
"Essa é uma das minhas melhores qualidades. Vamos, explique, estou esperando."
"Não tenho exemplos para usar."
"Que mentira!"
"Pois é."
"Fale logo."
"Eu quis crer que você me amava."
"... e isso não seria um fato, seria meramente uma interpretação."
"Supõe-se que sim; passaria a ser um fato a partir do momento em que eu tivesse provas de tal."
"Você está se contradizendo!"
"... por quê?!"
"Porque se você quis crer naquilo, então você tinha provas para tal; ainda assim, não era fato." "Tem razão, mas não significa que eu esteja me contradizendo."
"Como não?! Estou confuso."
"Eu tinha algumas provas para acreditar naquilo; mas a partir do momento em que não passa de uma tentativa de interpretação, não consta como fato."
"Nem que eu dê provas evidentes tornar-se-á fato, essa é a questão."
"Aí você vai entrar em outra interpretação feita por sua própria conta."
"... me pegou."
"Por isso que Nietzsche é divertido."
"Não é divertido, é meramente idiotice."
"Mas por quê?! Já te provei que faz sentido."
"Não faz, pra mim."
"Explique-me, então."
"Não quero."
"Ora. Eu me expliquei, agora é a sua vez."
"Não exatamente."
"Como assim, não exatamente?"
"Eu sou um cretino, você, não."
"Vai se recusar a dizer?"
"Vou."
"Muito bem, então."
"... você não vai agüentar."
"Vou, sim."
"Não preciso de interpretações para isso, você não vai agüentar, isso é um fato."
"... que calúnia!"
"Estou lhe dando a oportunidade de insistir."
"Isso é psicologia reversa."
"Ha."
"Isso é psicologia reversa suja, o que é pior."
"Isso é Schopenhauer."
"Deixe de ser cretino."
"Você já disse isso."
"Pois estou repetindo."
"Você quem sabe."
"... desisto."
"Te amava. De verdade."
"... é uma interpretação."
"Pois bem, e não deixa de ser minha; portanto, farei dela o que bem entender."
"Então..."
"... a sua interpretação sempre esteve certa."
"Posso acreditar nas provas, então."
"Ou pode simplesmente acreditar em mim."
"Ou isso."
"Posso só lhe perguntar algo?"
"Hã... Pode."
"Por que interpretava assim?"
"Porque assim me convinha."
"Isso eu já sei; convinha-lhe por quê?"
"Porque eu o amava também."
"Mas eu sou um cretino!"
"Um cretino que parecia me amar."
"... tem razão."
"Bom, pelo menos chegamos a um consenso."
"Não exatamente."
"Como não?!"
"Psicologia reversa."
"O que é que tem?"
"Ainda te amo."
... acho melhor voltar a ler Turma da Mônica. É o melhor que faço.
Current Music: The End (The Doors)
terça-feira, 15 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário