domingo, 19 de abril de 2009

Trevas

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Ainda deitado começava a me lembrar, vagamente. Era sábado, talvez. Mas o sol deitava de leve em minha cansada face, e as folhas secas no chão formavam uma espécie de cama. Meu casaco, bem desbotado, parecia coberto por algo que que era um misto de poeira e mato. Será?
Enquanto a luz do dia me cegava suavemente e meu corpo se mexia instantaneamente para sair daquele local, o único som que eu escutava era o dos pequenos galhos se quebrando com a força que meus pés faziam sobre eles.

Chovia pouco. Mas chovia.

Então caminhei em direção aquela velha e descascada ponte de madeira que me levaria ao outro lado do rio. Rio?! Nossa, realmente eu não fazia idéia de onde estava.
Enquanto coçava os olhos, tentando enxergar sem a ajuda de meus óculos (eu nem fazia idéia de onde eles teriam parado), eu ouvia um suave canto. Um canto da natureza talvez? Pássaros? Sereias?
Quem me derá sereias... rio, sereias, homem perdido... tudo a ver!
Mas não... era apenas um delírio. O canto que eu ouvia era um pequeno flashback da noite passada (Isto é, caso eu tenha ficado apenas uma noite caído por aqui). Lembro-me daquela moça esguia cantando sem parar e um carinha gordo enxendo meu copo de conhaque. É... vago, mas real.

Chovia um pouco mais. Mas não tanto.

Segui pela ponte. Apertei meus cadarços. Sorri para o por do sol, que realmente parecia me cumprimentar, e voltei pela estranha e quase invisível trilha de terra que me levaria ao desconhecido.
Enfrentei o escuro, caminhei pelas árvores e enquanto poucos pássaros começavam a rir de mim o tempo começava a correr novamente.

E lá estava ela. Na chuva. Molhada. Sorrindo para mim, junto com o silêncio. Com um abraço e uma toalha me recebeu. E, claro, com uma capa de chuva.
Então, sorri. Vagarosamente, mas sorri. Beijei-a como se beijasse a chuva. E fiquei calado, em seus braços.

Chovia muito. Como naquele inverno, que passou.


Current Music: Dark Shines - Muse

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