quinta-feira, 2 de abril de 2009

Da Falta de Coragem

-

Estava eu naquele ônibus lotado. E ela sentada ao fundo, sozinha. Eu ouvia a música que tocava alta em meu iPod enquanto observava seus traços pelo reflexo do meu chaveiro. Era doce, serena... e algo nela me atraia. Parecia segura de si, parecia estática em seus pensamentos. Vestia verde e branco, calçava uma bota e não alisava o cabelo. Utopicamente falando parecia um delírio.

Mas para mim aquela cadeira parecia distante. Não, não eram as pessoas do caminho que me impediam. Era a minha inércia. Minha falta de fé. Minha falta de coragem.

Hoje me vejo frágil. Fraco. E despercebido vou passando pela vida daqueles a minha volta, sendo apenas aquele que podia ter feito algo e não fez.

Então chegou a hora de deixar o ônibus. Puxei o sinal e mais algumas pessoas se locomoveram em direção a porta. Era minha vez, o ponto da minha casa estava ali. Dei um passo para o lado, deixei o senhor que estava atrás de mim passar e me sentei ao lado da menina. Deixei o ponto passar. Deixei minha casa passar... não poderia deixar ela passar!

Tomado pela covardia, olhei para baixo. Aumentei o som da música e tentei esquecer que estava ali. Eis que ela virou para mim, ajeitou a boina cor de salmão e disse:

- Sabe onde fica o Centro Cultural Banco do Brasil? - Olhou suavemente
- É no próximo ponto. - Até minhas palpebras tremiam

Assim que o sinal tocou, descemos. O ônibus tomava seu rumo, se perdendo na chuva fina que caia. Andamos sobre o tempo, sem remediar. Chegava a hora de tomarmos nosso caminho. E por lá chovia. Muito.

- Aceita um café?
- ... por que não?


Current Music: Where is My Mind? - Pixies

Um comentário:

Anônimo disse...

lembrei até de uma musiquinha que fiz sobre falta de coragem...

"esquece o casaco
pega um resfriado
acende um cigarro
não importa o estrago"

saltar num ponto depois...
por que não?

^^