terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Do esperado final

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Do mergulho profundo naquele local
Naquela estação quente, mas que parecia agradavel
Nas caminhadas longas que pareciam curtas
Nos passos curtos que dava
Nos meus estupidos passos longos
Nos seus olhos vorazes
Que me sugavam e me domavam
No tempo que passava voando
Na ausencia de relogios para conter a aflição
Do eterno enquanto dure ao seu seu sorriso
Seu sorriso mais forte que um exercito
Mais forte que qualquer coisa
E nisso tudo me perdi naquela tarde
Naquilo tudo me vi fraco, entregue...
Em você eu me vi outro
Eu me vi todo e completamente seu


Current Music: 9 Crimes - Damien Rice

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Das conversas extensas

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O amor não bate a porta
normalmente ele entra pela janela.


Current Music: There There (Radiohead)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cantiga do fim do ano

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De dedo em dedo
Contando eu vou
Os anos que correm
Tudo que passou

De ano em ano
Vou vendo ao redor
Minha infancia partindo
E eu ficando só

Sozinho sozinho
Eu tendo a cantar
Lembranças de um menino
Que deixei se calar

E calado calado
Devo ficar então
Sofrendo em silêncio
E escrevendo em vão


Current Music: Kid A - Radiohead

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Divagações

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Acordei nesta manhã como todo bom homem. Ainda no banheiro, enquanto lavava minhas mãos, me olhei no espelho... e lá estava eu: cansado. Cansado de uma vida que começou de verdade no fim da melhor das nossas etapas. Mas sem me abalar saí do banheiro. Caminhei um pouco pela casa procurando meu gato, até que lembrei não ter nenhum. Procurei meus pais e lembrei-me que não estariam aqui a essa hora. Estava só, como na maioria das vezes.
Sentei-me no sofá da sala, coisa que não costumo fazer já que não recebo muitas visitas, e fiquei olhando o porta-retrato antigo que enfeitava a estante. Sorri um pouco, realmente pouco, ao lembrar-me de momentos que aquele porta-retrato me remeteu. Curioso como uma foto pode trazer tantos sentimentos misturados de uma só vez.
Quando percebemos que o tempo está passando depressa e que muitas coisas estão ficando para trás, acho inevitável que tudo venha a tona e acabemos por pensar em tudo em uma explosão de lembranças. Ok, eu sou um saudosista de primeira... mas até que isso faz sentido.
Tive muitos arrependimentos até aqui. Muitos que em sua maioria são irrelevantes, outros que penso que se tivesse sido mais esperto hoje eu não seria o que sou. Dessas lembranças, muitas faço piada hoje em dia... algumas quando lembro, acho que penso demais para encaixar as peças.
Amei algumas vezes, intensamente, com força... algumas vezes sem ser correspondido. Outras vezes amei em silêncio. Fiz sempre tudo de um jeito peculiar demais para que fossem grandes histórias. Para mim tudo soa como um filme de alta bilheteria, mas não passam de fortes devaneios... ou não.
Não trabalhei muito e muito menos corri atrás do que queria. Dependi de pessoas, e isso entra nos arrependimentos. Mas fiz amigos, que talvez nem se lembrem do meu nome. Fiz inimigos, esses sim não devem se lembrar. Criei fábulas, juntei pedras, tive meus ídolos e quem sabe meus fãs. Tudo isso, sem perceber minha barba crescendo, meus medos se juntando... meu ímpeto indo embora.
Em um epicentro de emoções e usando expressões de jogos da minha adolescência termino este lamento, se é que posso chama-lo assim, fazendo minhas as palavras do poeta: Tristeza não tem fim, felicidade sim.

Em poucos dias deixo o pós 19 e sigo para os 9 degraus dos 30. Crise? Pode ser.
Se me encontrar por aí, me deseje sorte. Eu devo precisar.


Current Music: Death Valley 69 - Sonic Youth

sábado, 29 de agosto de 2009

O Outro Lado

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lá do outro lado
daquela grama toda
daquela lama toda
distante daqui
distante de mim
lá do outro lado
além dos pensamentos
acima das nuvens
acima das duvidas
além do tempo
lá do outro lado
que procuro
que navego
que me cego
que me acho
lá do outro lado
onde está você
onde estão eles
onde está o vento
onde não passa o tempo
onde tudo é perto
além do mundo
além de mim
lá do outro lado


Current Music: Strangelove - Depeche Mode

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Que Seja

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Acordar é para os fortes e preparados
Quando acordei pela primeira vez me senti fraco
Tomei um baque, fui surpreendido e fiquei calado
Não sei se foi real ou abstrato
Só sei que foi intenso, como uma briga de rua
Senti cada segundo cortar meu peito
E cada vez que pensava sentia de novo
Uma dor na pele, uma coceira nos olhos
O zumbido continuava
Me enganava, me iludia, me perturbava
Surpreso de novo me vi como um tolo
Acreditando no acaso, me entregando ao silêncio
Silêncio de mentira, de plástico
Sem sono eu acordava
Sem medo eu me atirava
Me atirava para fora daquilo tudo
E algo me acompanhava
Me seguia, me alucinava
Então acordei de novo
Dentro da mentira estive vivo
Mas amei de verdade outra vez
Então, voltei a dormir.


Current Music: Worms Eater - The Bubble

domingo, 9 de agosto de 2009

De Algum Lugar no Presente

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Desperte-me, minha menina
Deslize-se sobre meus poros
Entorpeça meus ouvidos com palavras
Porque queres assim e eu também
Desperte-me hoje como ontem
É disso que eu preciso, é disso que vivo
De certo por você morro de amores
Morro de medo, morro de saudade, morro de mundo



Current Music: We Can Work Out - The Beatles

domingo, 2 de agosto de 2009

Uma curta viagem em barcos de papel



Me lembro que levantei rápido da cama, estava um pouco suado e ofegante como se tivesse feito uma pequena corrida da portaria do meu prédio até a venda de frutas na esquina. Não me lembrava de nada que poderia ter me levado a ficar daquele jeito. Um pesadelo talvez? Quem sabe. Pensei o dia todo, sai para comprar o pó de café, que havia acabado devido a minha pilha de trabalhos para fazer, e então me sentei embaixo da cerejeira, que escurece meu quarto a tarde. Enquanto lia o jornal, que parece estar sempre com as mesmas notícias, fui vagamente me lembrando.

Ontem, eu flutuei. Sim, sai voando. Não, não sou o Superman e muito menos o Ironman. Mas pela primeira vez sai do meu corpo. Deixei de lado minha vida igual, minha rotina igual e meus pensamentos iguais. Resolvi fazer com que tudo fosse diferente naquelas ultimas 24 horas. Estava cansado daquilo tudo, muito cansado.

Entrei no meu banco e conversei com meu gerente. Resolvi tirar todo dinheiro de minha polpansa, aquela que está sem ser mexida desde que nasci. Cerca de 25 mil reais. Peguei todo o dinheiro e a primeira coisa que fiz foi comprar um maço de cigarros. Não, eu não fumo. Mas eu queria que tudo fosse diferente, então traguei me engasguei, cospi e guardei aquela porcaria na polchete (sim, até isso eu quis mudar) e continuei andando. Em seguida comprei uma calça de couro, um oculos escuro no vendedor ambulante que estava na calçada e uma passagem para viajar. Para onde? Não me lembro... só lembro que nevava. Bastante.

Acordei em outro país. Frio. No trem eu sentia apenas a brisa. Trem! Eu amo trem, quando eu era jovem meu avô contava sobre histórias de trem para mim... mas isso não faz diferença. Dancei muito em uma festa qualquer, da qual não fui convidado mas dei um jeito de entrar. Tirei umas fotografias idiotas em uma máquina porcaria, mas que aqui no Brasil seria um máximo se tivesse nas ruas. Toquei guitarra em um barzinho com uma banda de adolescentes bebados, cantei em uma máquina daquelas que aqui na minha cidade eu costumava odiar. Beijei na boca de um travesti, fiz sexo com uma adolescente que talvez fosse uma protituta e depois entrei em uma capela para assistir a missa.

Enfim, voltei para casa. Foi tão rápida a volta que parece até que eu estava ancioso para voltar para casa. Fui recebido pelo meu gato gordo roçando em minhas pernas, o cheiro de mofo no carpete era forte porque havia esquecido as persianas abertas. Conversei um pouco com o porta retrato e liguei a televisão. Descobri que sai do meu corpo, descobri que estava louco mas que pouco isso me importava. Sei lá se isso tudo é uma mentira e se estou realmente esquizofrenico, mas prefiro ficar quieto no meu canto, voltar a minha rotina e continuar acreditando.


Current Music: Insesatez - Fernanda Takai

terça-feira, 21 de julho de 2009

Do despertar

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E lá fazia tanto frio...
agora, faz frio dentro de mim.


Current Music: All I Need - Radiohead

domingo, 14 de junho de 2009

O Jovem Senhor e o Velho Moço

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Certa vez eu caminhava pelas calçadas da vida e parei em uma sombra para repousar - sombra de uma amendoeira que escurecia de leve um ponto de ônibus próximo dali. Nele, estavam dois homens conversando. Um senhor de mais ou menos uns 60 anos, vestindo uma roupa social com tons azuis e um belo sapato muito bem engraxado. O outro um jovem rapaz, com um i-pod na mão, uma mochila preta da adidas e uma camiseta escrita "Hey Ho! Let's Go!".
Eles conversavam sobre algo curioso: Amor a distância.
Resolvi pretar atenção. O jovem, muito vigoroso, cheio de si e confiante no que dizia, contava seu caso sem conter palavras. Fazendo uso de gírias como "tipo" e "véio" ele contava sobre sua paixão. Seu caso era curioso, porém comum nos dias de hoje. Ele havia conhecido uma garota na internet. Se apaixonou por ela antes mesmo de vê-la e aquilo tomou conta do seu ser. O amor foi tanto que o fez juntar suas malas e ir ao seu encontro. E foi perfeito. Apenas aumentou seu desejo de estar com sua amada, que mesmo de longe também o amava. Porém, o tempo o fez desacreditar e provar a ele que jamais daria certo. Que tudo não passava de uma paixão temporária e que não valia a pena investir nesse tipo de relacionamento. Gesticulava com força e contava que seria impossível para uma pessoa normal manter tal romance, nenhum amor seria mais forte que a distância.
O senhor, que parecia ter uma personalidade muito calma e compreensiva apenas escutava o que o jovem dizia. As vezes fazia sinais de positivo com a cabeça e as vezes mostrava uma insatisfação com relação ao que o rapaz narrava.
Após o garoto terminar sua história com um "Enfim, é impossível..." o senhor resolveu falar. Com uma voz rouca e uma expressão no olhar de quem passava firmeza, contou sobre seu passado. Dizia ele que, quando tinha a idade do jovem se apaixonou. O amor foi absurdo e completamente inabalável. Tinha planos de se casar com sua amada e viver uma vida feliz ao lado dela. Porém fora chamado para a guerra. Serviu seu país durante 10 anos. Foram 10 anos longe de sua dela. Dizia também que o que o fazia levantar todos os dias eram as cartas, as lembranças e a certeza de que longe daquele local estava ela, o esperando. Contou que em nenhum segundo daqueles 10 anos deixou de ama-la ou de acreditar que tudo daria certo.

Então o jovem, pasmo com toda aquela história, virou e disse:
"-E você conseguiu ficar com sua amada, após a guerra?"

O senhor respondeu que não. Pois quando voltou ela estava doente, muito doente. Teve tempo de se despedir, dizer o que quanto a amava e antes mesmo de lhe entregar suas rosas ela se foi. Para sempre.
Segundos depois, surgiu da curva um ônibus amarelo. Era o ônibus que o senhor esperava. Ele levantou do banco e fez o sinal com a mão. Com um leve sorriso disse "tchau" e o menino curioso o chamou rapidamente

"- ... mas como o senhor conseguiu viver até hoje sem ela?"
"- Da mesma forma que ela viveu aqueles 10 anos sem mim..."
"- Como?!"
"- A amando."

Não sei o que aconteceu após isso tudo, mais uma coisa é certa: Com certeza aquele rapaz pegou outro ônibus e foi atrás de sua paixão, que um dia acreditou que não daria certo.


Current Music: What A Wonderfull World - Louis Armstrong

terça-feira, 2 de junho de 2009

Das Esquinas

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Resolvi sair naquela manhã fria. Tarde ou cedo vão perguntar onde estou, mas quem sabe esqueçam? Peguei meu violão quase empenado, estendi as mangas, marquei esquinas no meu mapa da mente e sem motivos fui caminhar. Caminhei sozinho, sem muito motivos além de esquecer tudo aquilo que sinto falta. Quero esquecer a saudade que o tempo me causou. Esquecer que um dia tudo foi fácil de se resolver e eu não resolvi. Os ponteiros do relógio me atropelaram e agora sou assim, mal resolvido.
A madrugada foi chegando e só notei após o terceiro botequim, o terceiro copo de gim e uma ou duas canções famosas no violão.
Sei que tenho amigos, sei que tenho sorrisos e as vezes até palpito por amores. Mas algo não me deixa estar aqui quieto. Algo me faz andar. Algo me faz querer recomeçar e tentar, mesmo que em vão, sorrir sem pensar duas vezes.

Mas se quiser me procurar, sabe onde encontrar.
Estou por ai, junto com as suas palavras e seus lamentos.
Solitário mas sempre convicto.
Tenho tudo o que preciso para me acompanhar.
Então, se quiser saber se volto hoje, apenas se lembre
Que estou por ai, junto com ela.


Current Music: Natalia - Legião Urbana

sábado, 23 de maio de 2009

Até que o Tempo nos Separe

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Os sinos tocavam forte fazendo com que minha cabeça vibrasse e meus tímpanos ardessem. As vozes, das felizes pessoas lá presentes, me faziam ficar completamente louco. Eu me sentia totalmente atordoado e flutuante, aquilo parecia um mar escuro com fortes ondas quebrando em minhas costas. Todos bem arrumados, ternos finos, gravatas coloridas, vestidos longos e todos com seus cabelo devidamente penteados.

Mesmo assim sentia a maré subir.
Sentia o vento rugir.
E sentia o medo tocar de leve meu ombro.

Enquanto fazia força para que meus olhos enxergassem sem lacrimejar, via ao longe surgindo uma mancha branca. E de repente, o silêncio tomou conta do local. Lá estava ela, a noiva. A mulher, linda como os olhos de uma criança de 4 anos de idade, com um belo vestido longo, um cabelo negro fazendo contraste com seus trajes e sem sapatos. Cada passo que dava era uma palpitação mais forte no peito de cada pessoa ali presente. Inclusive em mim, que me sentia apaixonado pela desconhecida mulher, noiva de um desconhecido homem que se casariam naquela desconhecida igreja.
'Pode beijar a noiva', isso era tudo o que eu não queria ouvir. Enquanto o padre, um senhor bem humorado e com rugas de simpatia, ia fazendo seu discurso minha cabeça voltava a rodar. O sorriso de cada pessoa, que olhavam distraídas e ao mesmo tempo iludidas com tamanha felicidade, pareciam me esfaquear de leve.

Então gritei! Sim gritei e gritei muito.
Que parasse aquilo tudo! Que me ouvissem!
Aquele homem não poderia amar aquela mulher!
Não mais que eu poderia amar...


Mas ninguém me ouviu. O casamento continuou e era como se eu ali não estivesse. Saí da igreja antes mesmo das alianças entrarem nos dedos e caminhei por entre aquelas ruas escuras e arborizadas. Tomei uma dose de cachaça em um buteco próximo e fiquei assistindo ao morno jogo de sinuca disputado por um senhor barrigudo e um jovem com uma camisa do Star Wars. Foi quando olhei pro lado e vi o noivo. O tal do desconhecido. Mais bêbado que um pudim de cerveja, ele olhou pra mim e me ofereceu uma dose. Perguntei o que havia acontecido e ele disse que fugiu. Teve medo. Vê se pode?! O maldito largou aquela linda mulher no altar porque foi um covarde! E eu aqui, desejando que ela fosse minha!

Tocava meu ombro e dizia: Vá embora, garoto. Isso não é pra você... talvez depois você entenda.
E entendi...
A chuva batucava o vidro da janela de madeira
A bola vermelha era encaçapada
E eu, com minha alma molhada, mergulhava em covardia.


Current Music: Under The Sun - Black Sabbath

terça-feira, 19 de maio de 2009

Das Escadarias Nebulosas

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Era uma madrugada de terça-feira e as ruas, cobertas por panfletos amassados e guimbas de cigarro, pareciam não acabar nunca. Se minha avó estivesse ali com certeza diria algo parecido com "a serração está demais". Fazia muito frio, e meu pesado casaco de couro parecia não ser suficiente. Abaixei para amarrar os cadarços de meu velho all star vermelho, pelo menos esta era sua cor antes de desbotar, e tudo começou a rodar. Rodar mesmo, sabe? Como se eu estivesse em uma Roda-Gigante a 180 km/h.

Ainda era terça-feira, e eu não estava mais naquelas ruas. Quando levantei estava na estação de trem. Não sei se dormi, flutuei, viajei no espaço e tempo! Só que sei que lá estava, na estação.
Ao meu lado uma mal humorada senhora reclamava com uma garotinha, que devia ter uns 7 anos, sobre seu jeito de prender o cabelo, que parecia uma criancinha inocente - o que de fato era. Quando a porta do trem se abriu perdi a senhora e o diálogo dela com sua possível neta de vista. As pessoas passaram por mim em uma velocidade avassaladora. Eu, obviamente, não corri. Obviamente porque não sou de correr. Fiquei olhando, observando a pressa e o desespero de cada um que queria desesperadamente sair daquela suja e fétida estação. Menos eu. Eu e mais alguém.

Do banco azul e descascado, que ficava embutido na parede próxima a saída da estação, eu ouvia um agradável som. Olhei de leve para decifrá-lo e lá estava ela. Uma menina, aparentemente com uns 14 ou 15 anos, suave e serena. Com um velho, porém bem cuidado, violão. Ela tocava algo familiar.. seria The Who? Neil Young? Algo assim... mas ela não parecia tão concentrada. Cada pessoa que passava ela olhava e levemente errava um acorde ou se atrapalhava na levada da música. E cada vez que ela errava eu olhava para ela e reparava algo diferente. Olhos castanhos, óculos de aro preto, cabelo liso com uma curiosa franja para o lado e uma cara de que não tinha idéia do que estava fazendo ali.

Até que em uma das várias vezes que olhei para ela, ela notou. E sorriu, singela mas sorriu.
Sentei ao seu lado e perguntei que trem ela pegaria. Ela não respondeu e continuou a tocar. Tímida? Talvez não... acho que nem escutou o que eu disse. E cerca de 2 minutos depois respondeu "Nenhum, e você?". Aquilo me pegou de surpresa, pois quando notei que ela não sairia dali senti vontade de não sair também.

Enquanto ela continuava tocando eu apenas ouvia e a observava. Devagar e devagar, observava. Foi quando reparei meu sapato, novamente, com os cadarços desamarrados. Me abaixei para amarrá-los e senti o mesmo cheiro da madrugada. Quando dei por mim aquilo tudo tinha sido um rápido sonho - ou quem sabe delírio - e lá estava eu, na empoeirada e suja esquina da minha casa. De lá, subi minhas escada, forrei a minha cama e deitei na esperança de voltar para aquela estação e ao menos perguntar o nome dela.


Current Music: Trouble - Coldplay

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Da Cidadezinha do Interior

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Acordei tarde demais naquela manhã, fazia frio. Bom sinal. Me deparei com o velho despertador azul transparente que estava caido atrás da mesa de cabiceira, e que meu relógio havia parado. O café, já frio, estava sem gosto. Uma tarde cinza em uma cidade pacata onde eu não conhecia nada além de fotográfias e histórinhas que ela me contou.
Da janela do hotel eu via um senhor, lendo seu jornal e tomando algo em um belo pires com uma vaquinha desenhada. Não fazia idéia de que notícias estampavam a capa do noticiário. E nem fazia questão. Um leve e curioso sol ne espionava pela fresta da perciana cor de mármore enquanto eu me arrumava. E então resolvi sair, atrás do que realmente me interessava. Ela.
O vento ia me guiando por aquele local totalmente desconhecido para mim. Então vi o bebê no colo da mãe chorando e apontando de leve para a menina que roubava um pôster do Kiss que estava no ponto de ônibus. Lá uma senhora gorda, bem simpática, ficava olhando sorridente para a criança enquanto esperava a sua vez de ir para casa - ou seja lá para onde for. A mulher com o bebê ia caminhando e o vento soprando, bagunçando meus cabelos que já não são muito arrumados. Então chegava o ônibus. Lotado, claro. Lotado de pessoas cinzas que pareciam não apreciar nada a sua volta.
Durante 5 minutos e 43 segundos o ônibus ficou parado, esperando a entrada e saída de passageiros. Assim que ele saiu nos exatos 43 segundos daquele minuto o ponto esvaziou, e ela estava lá. Vestida preto. Tudo preto. Maquiagem, cabelo, blusa, saia, sapato. O batom, acho que era vermelho, ou seria roxo. Não sei. Ela parecia distraída, olhando para o verde da árvore que balançava. Então atravessei a rua. Aquilo parecia um filme. Mas não, era uma travessia comum, estilo Beatles em Abbey Road - se é que isso pudera ser chamado de comum.
Sorrindo para mim, ela disse um singelo “Oi”. Seus dentes eram retos, brancos e brilhantes. Mas isso não interessava mais. As nuvens em forma de coelho - algumas em forma de urso também - voltavam a se mexer e a chuva fina começava cair. Estendi minha mão esquerda e migramos para direita (o bom homem sempre fica do lado da rua, é uma forma de proteger a sua acompanhante).

- E então? Para onde vamos? – Perguntei com cautela.
- Para lá... – Apontava com os olhos
- E o que tem lá?
- Faz diferença?


Current Music: Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida - Os Mutantes

domingo, 26 de abril de 2009

A Rua dos Encontros

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E a chuva ia caindo lavando minha lástimas
O caminho ia se abrindo devagar, devagar...
E lá estava você, com seu sorriso longo
E a agradável maneira tímida de juntar as pernas
O reflexo da chuva em seus óculos parecia sonoro
E eu, pasmo, apenas caminhava para ti
Na longa, longa Rua dos Encontros
Enquanto eu caminhava ia me lembrando
Quando vislumbrei você de branco naquele dezembro
Se preparando para as festas, porém sozinha
E eu sempre lá, caminhando, caminhando
Lembrava também de quando brigávamos
Era tão irritante... mas às vezes saudável
Conforme eu me aproximava, ia vendo meu reflexo em seus óculos
E seu sorriso ia se alargando... suas pernas se juntando
Era tudo o que eu precisava... era tudo o que eu desejava
Naquela longa, longa Rua dos Encontros


Current Music: Tell Me - The Rolling Stones

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Da Verdade Por Trás do Guarda-Chuva

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A chuva molhada
Que molhava minha vida
Inundava minha alma
Lavava minha rua
Molhando e molhando
Chovia um chovisco em mim
E tudo, e nós
Ficávamos felizes
Com a água que lavava
E desbotava
E coloria
Nosso passado


Current Music: Teardrop - Massive Atack

domingo, 19 de abril de 2009

Trevas

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Ainda deitado começava a me lembrar, vagamente. Era sábado, talvez. Mas o sol deitava de leve em minha cansada face, e as folhas secas no chão formavam uma espécie de cama. Meu casaco, bem desbotado, parecia coberto por algo que que era um misto de poeira e mato. Será?
Enquanto a luz do dia me cegava suavemente e meu corpo se mexia instantaneamente para sair daquele local, o único som que eu escutava era o dos pequenos galhos se quebrando com a força que meus pés faziam sobre eles.

Chovia pouco. Mas chovia.

Então caminhei em direção aquela velha e descascada ponte de madeira que me levaria ao outro lado do rio. Rio?! Nossa, realmente eu não fazia idéia de onde estava.
Enquanto coçava os olhos, tentando enxergar sem a ajuda de meus óculos (eu nem fazia idéia de onde eles teriam parado), eu ouvia um suave canto. Um canto da natureza talvez? Pássaros? Sereias?
Quem me derá sereias... rio, sereias, homem perdido... tudo a ver!
Mas não... era apenas um delírio. O canto que eu ouvia era um pequeno flashback da noite passada (Isto é, caso eu tenha ficado apenas uma noite caído por aqui). Lembro-me daquela moça esguia cantando sem parar e um carinha gordo enxendo meu copo de conhaque. É... vago, mas real.

Chovia um pouco mais. Mas não tanto.

Segui pela ponte. Apertei meus cadarços. Sorri para o por do sol, que realmente parecia me cumprimentar, e voltei pela estranha e quase invisível trilha de terra que me levaria ao desconhecido.
Enfrentei o escuro, caminhei pelas árvores e enquanto poucos pássaros começavam a rir de mim o tempo começava a correr novamente.

E lá estava ela. Na chuva. Molhada. Sorrindo para mim, junto com o silêncio. Com um abraço e uma toalha me recebeu. E, claro, com uma capa de chuva.
Então, sorri. Vagarosamente, mas sorri. Beijei-a como se beijasse a chuva. E fiquei calado, em seus braços.

Chovia muito. Como naquele inverno, que passou.


Current Music: Dark Shines - Muse

sábado, 18 de abril de 2009

Em Seus Olhos

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Eu sou o que a de vir
Estou sempre esperando, escondido
Eu sou só um animal
Preso em seus próprios delírios
Eu sou o dia que virá
Mas que você provavelmente vai ignorar
Eu sou apenas uma ilusão
Tentando fugir do escuro
Eu sou a promessa do passado
Eu sou o pássaro que fugiu
E vou voando, voando... solitário
Porque você é tudo que eu preciso
Você está na margem do meu caderno
No centro da minha pintura
E eu, estou deitado em seus olhos


Current Music: Fatal - Pearl Jam

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Os Porteiros de Nossas Vidas

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É incrível como o tempo passa. Vemos pessoas que passam por nossas vidas indo embora. Vemos pessoas novas entrando em nossas vidas. Certas pessoas são passageiras em nossa mente, outras marcam nossa memória para sempre.

Certo dia estava saindo de casa para o curso e algo me chamou atenção. Normalmente estou atrasado e deixo de reparar as coisas a minha volta, mas esta situação foi um tanto quanto peculiar. Em frente a minha casa tem uma pequena escolhinha, daquelas que matriculamos nossos filhos mais para brincar do que para aprender. Mas como em toda escola, nela havia um porteiro. Este, um homem negro, alto, barrigudo e muito simpático (familiar para você?).

Fui reparando o quão feliz ele era. Brincava com todas as crianças que passavam, mexia com todos! Até a mim ele cumprimentou! Eu que nada tenho a ver com aquela escola ou com o próprio. Talvez aquele emprego não seja o que ele sonhou e almejou durante sua adolescencia ou até mesmo na fase adulta, mas sem dúvidas estava feliz ali. E fazia questão de passar sua felicidade para os outros. Curioso, muito curioso.

Então fui me lembrando de todas essas pessoas, que parecem não ter importancia para nós, mas que um dia nossos olhos enxerão de lágrimas ao nos lembrarmos da cobrança de caderneta, das “ajudinhas” para entrar atrasado, do “boa tarde rapaz”. Sem dúvida eles devem ser lembrados, e serão. Queira você ou não.

Talvez entregue esse texto aquele porteiro tão simpático que me cumprimentou e me fez lembrar, pensar e recordar isso tudo. Talvez, eu guarde para mim. Talvez eu nem salve no meu computador este texto. Mas com relevancia ou não, eles continuam lá, tomando conta da porta, tomando conta de provas... tomando conta de nossas vidas. Para que um dia possam ouvir um “Obrigado por tudo.”.


Current Music: Além do que se vê - Los Hermanos

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Do vácuo

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Do silêncio...
E das rosas...
Lá vai, vai... vai
Você.


Current Music: God Gave Rock and Roll to You - Kiss

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Da Falta de Coragem

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Estava eu naquele ônibus lotado. E ela sentada ao fundo, sozinha. Eu ouvia a música que tocava alta em meu iPod enquanto observava seus traços pelo reflexo do meu chaveiro. Era doce, serena... e algo nela me atraia. Parecia segura de si, parecia estática em seus pensamentos. Vestia verde e branco, calçava uma bota e não alisava o cabelo. Utopicamente falando parecia um delírio.

Mas para mim aquela cadeira parecia distante. Não, não eram as pessoas do caminho que me impediam. Era a minha inércia. Minha falta de fé. Minha falta de coragem.

Hoje me vejo frágil. Fraco. E despercebido vou passando pela vida daqueles a minha volta, sendo apenas aquele que podia ter feito algo e não fez.

Então chegou a hora de deixar o ônibus. Puxei o sinal e mais algumas pessoas se locomoveram em direção a porta. Era minha vez, o ponto da minha casa estava ali. Dei um passo para o lado, deixei o senhor que estava atrás de mim passar e me sentei ao lado da menina. Deixei o ponto passar. Deixei minha casa passar... não poderia deixar ela passar!

Tomado pela covardia, olhei para baixo. Aumentei o som da música e tentei esquecer que estava ali. Eis que ela virou para mim, ajeitou a boina cor de salmão e disse:

- Sabe onde fica o Centro Cultural Banco do Brasil? - Olhou suavemente
- É no próximo ponto. - Até minhas palpebras tremiam

Assim que o sinal tocou, descemos. O ônibus tomava seu rumo, se perdendo na chuva fina que caia. Andamos sobre o tempo, sem remediar. Chegava a hora de tomarmos nosso caminho. E por lá chovia. Muito.

- Aceita um café?
- ... por que não?


Current Music: Where is My Mind? - Pixies

sexta-feira, 27 de março de 2009

Textos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 8 de 8)

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Palpitações e Violinos


No verão sou rabugento
Irritado, mau-humorado... calorento
Não suporto companhia
Amigos, vizinhos ou visitas
Só quero me recolher no meu canto
Sozinho com meus delírios

No outono sou calado
Observador, analítico... apaixonado
Me lembro dos anos passados
Dos amores, devaneios e até magoas
Gosto de remoer o que deixei de lado
Tomar um vinho e sonhar parado

No inverno sou até feliz
De vez enquando saio, e até caminho
Visito amigos que quase não vejo
Abro mais vinhos e realizo desejos
Fico vulnerável e até anceio
Que volte a amar sem dor ou medo

Na primavera sou romântico
Ouço Vivaldi e compro diamantes
Ligo diariamente para meu grande amor
Cuido, abraço... não esqueço
Escrevo cartas e poesias
Reelembro dos sorrisos e palpitações
Que me tomam noite e dia


Current Music: Roads - Portishead

domingo, 15 de março de 2009

Devagar

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A mente nos pede pra parar
Dizendo o certo, como somos
De medo em medo
Acima das luzes que tocamos com os dedos
Das palavras que nos diziam
Da estrada do vale Calado, distraido... além das luzes
Posso repousar e parar
Para assim seguir sozinho
Com você em meu silêncio
Quebrando aquela distância
Que não podemos tocar
E continuo tentando, com as lágrimas que desenhei
Além dos sonhos que chorei
Revivendo a pausa que me deixou
Calado, além das luzes


Current Music: Showbiz (Muse)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Textos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 7 de 8)

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Boêmia II


Então eu, um bardo sem capa e mágica
Com o banjo e minha "caninha" em punhos
Hei de cantarolar, como a doutrina diz
"Que sejas puro e solitário por vós
Outra vez, vamos lá... cantarole"

Hei de errar a esquina da Atlântica
Que marquei de novamente chorar
Repetirei tudo outra vez, por você meu bem
Ah, como perdi a prática...

E dos boêmios de sapatos que irei pedir
A nota que começa esse meu clamor
No limiar da saudade que senti
Sem a lua para me acudir, outra vez

Então me diga, cigana sem o Ás na manga
Hei de ser o que sonhei?
Acho que não, então talvez
Beberei, beberei... e beberei.


Current Music: Videotape - Radiohead

quarta-feira, 4 de março de 2009

Do Caminho para o Por do Sol

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As vezes me irrito com esse teu jeito
De mentir enquanto tenta dizer a verdade
E me enganar quando tenta me esclarecer as coisas
As vezes me incomoda essa festa que faz ao me ver
Mesmo quando isso me alegra
E ao inves de falar acaba se calando pra mim
Mas é do teu silencio que tiro minhas melhores palavras
Porque é teu sorriso que me desperta
E é em seus braços que me encontro
A minha menina, só minha... minha apenas
Queria que nosso abraço fosse o simbolo de tudo
Para assim ficamos sempre juntos sem medo
As vezes o medo me engana e me acovarda
Porque das palavras que digo as vezes saem em gritos
Então me calo novamente esperando o amanhecer
Para que possamos juntos ver de novo
O que desenhei para você aquela vez
Mas lembrando que tudo isso é só as vezes
E o as vezes "passa como passarinho", já dizia o poeta
Mas não irei nunca esquecer
Que as vezes te amo e as vezes te odeio
E as vezes... sinto falta de você


Current Music: Tá bom (Los Hermanos)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 6 de 8)

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Boêmia I


Oh solidariedade que se vai até dos bares
Daquelas lamparinas da Lapa, mofadas até na capa
Meus pais não me ligam mais
Eles mudaram até comigo, seu próprio filho

Já não sei me explicar, mas acho que isso passa
Ainda posso ouvir Edith Piaf barbarizar seus casos
Mas que sermão estou a dar a meus ouvidos!
Acho que ela não mais voltará
Só o que me resta é este mar vazio de outrora

E naquele estopim esquecestes de anotar
Que seus amigos irão voltar
Então não chores mais minha doce menina
Sei que terás um tempo para rezar

Oh Deus, que bobagem a minha!
O tempo não há de parar
Não sou vidente nem mago algum
Então que seja este o ultimo copo de rum

Afogado termino de ler...
Amanhã talvez.
É melhor não esquecer que
no sol do amanhecer que pintei

E pintei... e pintei... e pintei...

... enfim chorei.


Current Music: Need - Mudhoney

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Outra Vez Você

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E te vejo caminhar sem olhar
Meus olhos viajam junto com minha mente
E os sentimentos fluem com os passos
Sua voz entra de leve em cada poro de minha pele
Me fazendo flutuar ao sentir que é real
Real, intenso... surpreendente
E faz chover de verdade em minha mente
E te vejo caminhar sem perceber
Que seu sadismo me torna diagnosticado
Com seu sorriso de menta e sensatez
Ninguém entende meus sentimentos
E eu desligo o telefone sem dizer adeus
Porque é a sua voz me leva pro mundo real
Porque você me disperta
E me sinto livre, me sinto eu mesmo
Desesperado escrevo, desenho e pinto
E deesejo o silêncio
Para partir isento de qualquer culpa
Por não ter dito a verdade
E te amar calado outra vez
E outra vez, e outra vez, e outra vez...


["Para aquela que um dia há de ve-lo com outros olhos"]


Current Music: There There - Radiohead

Da Espera Contínua

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Era um dia qualquer, para qualquer pessoa. Caminhei sobre a grama, levemente molhada, e senti pequenas goticulas de água molharem meus dedos descobertos. O sol forte me cegava levemente e as nuvens pareciam se mover mais rápido que o normal. Com meu iPod eu me fechava contra o barulho que aquele local fazia. As vezes é mais divertido ver as pessoas e tentar adivinhar o que elas estão falando ao som de algo diferente de barulhos de carros, crianças chorando ou pessoas berrando. E eu via em um banco branco de madeira ao longe, um casal. Ele era magro, alto, com um cabelo curto arrepiado; Ela, uma menina ruiva, com sardinhas e uma cara de poucos amigos. Ambos vestiam camisetas pretas e calça jeans. Pareciam brigar por algo, talvez, tolo. Mas para mim era muito mais que isso. Talvez ele tivesse traído ela, ou ela tivesse chegado atrasada demais e ele estivesse se queixando. Quem sabe? Eu poderia tirar o fone, chegar perto e ouvir para entender... mas assim é de fato, divertido. Enquanto começava a leve introdução de Logical Song do Supertramp eu percebia que ambos estavam se beijando. É incrível perceber como um namoro se resolve rápido, apesar de brigas e discuções eles sempre se resolvem, tomam um café, dão as mãos e saem andando felizes observando os pássaros. Acho que por isso todos acham que vale a pena... Mas eu continuo como um espectador aqui, vendo, sentindo e deduzindo...
Então vagarosamente rumei em direção ao jornaleiro mais próximo, comprei meu jornal favorito, um maço de cigarros de menta e um chiclete para não me entediar. Sentei-me no banco onde outrora o casal estava e lá fiquei, lendo, mascando e esperando o dia em que eu poderia me sentir no lugar do casal que eu observava.


Current Music: Sometimes (My Bloody Valentine)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 5 de 8)

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Ressaca de Refrigerante


Hoje acordei com meu chapéu de cowboy e meu terno azul. Pudera ser um sonho ou eu realmente estava vendo tudo embaçado? Meus pés tocavam de leve o chão e eu ouvia uma canção. O som penetrava meus tímpanos que descansavam ao ouvir tal sonoridade, não me lembro da noite passada, se é que existiu uma. Só lembro de uns frascos de kibes e umas garrafas vazias no chão... minha memória estava falhando como vindo de uma ressaca forte. Sei que tive amigos, mulheres e até mesmo homens. Tudo passou do estágio da loucura diária e aceitável. Meu celular havia desaparecido assim como meu pudor desmedido. Por fim, chutei meu gato, que repousava levemente sobre minhas sandálias, catei meus óculos que estavam com a armação bem torta, ajeitei meu cabelo que já não é muito ajeitável mas parecia pior que de costume, tomei um forte café doce, fumei um cigarro nojento de fundo de gaveta, enfrentei a chuva que parecia rir de mim e fui trabalhar como se nada tivesse acontecido.


Current Music: Search and Destroy - Iggy and The Stooges

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Verde, Vermelho e Amarelo

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Correr atrás de quem se ama é uma arte. Para poucos. Fato.
Se ver perdido, confuso e anestesiado sem conseguir falar ou articular o que se deve é o comum então. A covardia interna não se acovarda perante o amor.
E falar de amor é tão complicado... cansativo, difícil...
Mesmo com um por de sol amarelado não conseguimos nos inspirar, expressar...
O amor torna nossa vida um quadro com vários tons da aquarela. Confuso isso? Sim. Porque não? Falamos de paixão, amor, devoção, quem sabe?

Não correr atrás nos faz seguros. Dentro de um casulo nos protegemos de possíveis decepções ou talvez glórias que pode se tornar amarguras no futuro.
Então viver fechado, trancado e escondido é o que faz de nós, seguros sentimentalmente.
O mundo é dos covardes! Grandes países usam de covardia contra os menores países para adiquirir o que bem entendem. Grandes (e gordinhos) garotinhos da escola usam de seu tamanho para roubar o lanche dos menores e indefesos menininhos. Grupos de playboys usam seu grande numero de pessoas para, covardemente, ferir algum nerd de oculos e espinhas só porque ele é fã de Star Wars.
Fato, fato, fato...
Então nos vemos em um limiar colorado sem chance de lutar contra nosso ímpeto. E por mais que vermelhos de raiva, não podemos dizer. Nos calamos, e calados permanecemos. Sãos e salvos. Porém em vão.

Mas quando o tempo passa e as folhas verdes se fazem marrom, me lembro dos olhos dela. No sol, do castanho passa para o tom das folhas e isso me conforta de forma que esqueço de falar e volto a gaguejar. Mas se deixar o dia correr, a semana acabar e os mês voar podemos ficar quebradiços e fracos, como se tudo que nos resta é um abrigo solitário. De fato a vida é curta, chata e trabalhosa então não podemos nos dar ao luxo de exitar! Porque aqueles olhos podem nos enganar ou confundir e no meio de toda incerteza pode haver um momento de exatidão e aí o por do sol de cores se funde com aquele olhar e a confusão se torna uma certeza concreta. E tudo se encaixa. O tempo de agora se torna o que esperamos. E o que esperamos se torna mais que real.


Acordado então, me vejo entre essa questão. Falar de amor, correr de medo ou nadar em prol de um bem maior?

Pois é, amar é complicado... porém o que mais complica é o medo de não ser amado, muitas vezes sem razão.


Current Music: Changes (Black Sabbath)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Da Mentira

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E o tempo mentia pra mim
Sobre o verão que deixei passar
Devagar, devagar, devagar...


Current Music: Condicional - Los Hermanos

sábado, 24 de janeiro de 2009

Da Tempestade que Vem e Fica

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E tão sereno e moribundo, olho pela janelinha do banheiro... dela vejo grades e telhados, nada colorido além dos frascos de sabonete líquido que ficam perto do vidro. A chuva vai caindo fina, fria e silênciosa. Aquele silêncio parece cortar meus tímpanos que ao mesmo tempo me iludem com um som fresco e pálido.

E devagar vou vendo, analisando e pensando... cansado de peregrinar pela casa fico ali, inerte.

Eis que passa em minha mente aquele repetitivo flash, papai chegando do trabalho, mamãe fazendo o jantar... e eu calado. Como hoje.

Sorrio sozinho mas sinto vontade de deitar. E a chuva não para. E o flash termina. A vontade de sair por aquela janela é grande, mas as grades me impedem. O que teria lá fora que tanto me acalma, me engana, me conforta...?

Aperto os botões de minha camisa, apago a luz que me incomoda e caminho novamente ao meu sonoro dia-a-dia. Mas aquele momento de silêncio e sem cor parece ter me despertado.

E a chuva vai caindo... inundando a rua... inundando minha mente... inundando minha vida.



Current Music: Garden - Pearl Jam

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 4 de 8)

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A Casa dos Sorrisos Velhos


Olha que lindo o sorriso daquela criança
Sentada na varanda daquela velha casa
Me parece tão novinha, inocente... sozinha
O que se passa naquela cabeça?
Será que entende tudo a sua volta?
Acho que nem notou que olho tão fixamente para ela
Ela ou ele?
De longe me parece ela, tão quietinha e bonita
Dizem que nesta casa morou um velhinho
Que estava sempre sorrindo, sempre feliz
Será que a casa faz isso com as pessoas?
Rá, que isso... tolice a minha
Mas é estranho como estou aqui, olhando...
Mesmo cansado desse dia chato, com meu terno sujo
Minhas meias ensopadas e minha vista embaçada
Mesmo assim consigo sorrir ao ver aquela criança
Como se tudo sumisse...
Em pensar que quem morou aqui fui eu
Até minha idade chegar eu sentava naquela varanda
Mas um dia deixamos de viver sozinhos
E passamos a depender dos outros
Hoje, tudo o que tenho são meus netos
A vida me tirou até minha antiga casa
Infelizmente este é o ciclo da vida
Mas aquela menininha lá sentada ainda vai entender
Que um dia sentirá falta desta casa
Um dia, sentira falta de seu lar


Current Music: Help! (The Beatles)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 3 de 8)

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Verde


Vem vindo o vento verde
Voando solto por entre as nuvens
Ludibriado com o amarelo
Que tingia as cortinas de manhã
O vento forte que rugia
Manso manso para não acordar o silêncio
Verde claro, verde escuro
Vinha vindo o vento verde
Tocando música, contando contos...
Com flautas, harpas e cornetas
Na margem de minha mente me enganava
Ouço seu som e tudo se faz
Mais bonito, mais colorido...
Vai o vento verde pelo amarelo a fora
Fica o sorriso que me trouxe
E a felicidade de outrora


Current Music: Sweet Little Kitten (Husky Rescue)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Da Insanidade Temporária

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Dia 6 de janeiro de 2009, tarde chuvosa e fria. 

 

Quando acordamos de manhã e vemos a janela embaçada, o céu iluminado e o poster da parede sorrindo para nós começamos a perceber que algo está errado. Não que isso tudo tenha alguma ligação direta com nosso estado mental, mas aparentemente aquilo tudo começa a fazer sentido naquele instante. 

Beirando a sonolencia com um misto de loucura, vemos que as coisas a nossa volta de nada servem e mergulhamos em uma piscina de duvidas e incertezas que nos faz pensar que estamos temporariamente loucos. 

O ser humano não é capaz de lidar com a solidão sem perder a lucidez. Isso é fato. E é neste exato momento que os devaneios começam a se tornar reais e o frio que entra pela fresta da janela começa a fazer você pensar que nada é tudo e tudo é nada. 

Então você sai de casa, entra em uma pequena capela, senta em um velho e empoeirado piano de cauda recém afinado e o som sai estridentemente infernal. A espuma de barba que usa todas as sextas-feiras para se barbear está com cheiro de chocolate meio amargo e sua mãe parece não falar coisa com coisa. 

Vagarosamente vou então andando, sorrindo e debochando do real. Me acostumando com a realidade distorcida de minha mente e tentando ver tudo pelo lado inverso.    

 

E o frio da janela continua a entrar... talvez os sintomas sejam fruto de um contato com o real e tudo aquilo que julguei ser meu, era simplesmente utópico.

 

Current Music: All Apologies (Nirvana)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Contos Perdidos das Páginas Mágicas (Texto 2 de 8)

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Bom dia

Bom dia senhorita
Que bela flores tem aí
São margaridas? Que lindas

Bom dia senhor
Que bela gravata tem aí
É cinza? Que linda

Bom dia meu amor
Que belos olhos tem pra mim
São sinceros? Que lindos

Bom dia reflexo
Que belo sorriso tem pra mim

É de plástico? Que lindo

Current Music: Love Reign O'er Me (The Who)